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Pílula Anticoncepcional e Enxaqueca

Atualizado em 06/02/2022 Por Dr. Alexandre Feldman

Pílula anticoncepcional não faz bem para enxaqueca

Pílula Anticoncepcional

Pílula Anticoncepcional e Enxaqueca

Ouve-se, normalmente, que pílula anticoncepcional não faz mal. A pílula anticoncepcional é utilizada atualmente em larga escala, não apenas para evitar gravidez, mas também para tratar espinhas na pele, cistos de ovário, irregularidades menstruais e até TPM. Para muitos médicos, falar mal da pílula é tabu. Coisa de religioso fanático. “Pílula anticoncepcional não faz mal!” Pelo contrário, o que se diz e até se assiste em algumas entrevistas de profissionais de saúde em rede nacional de televisão, é que pílula anticoncepcional ajuda a tratar enxaqueca, especialmente a enxaqueca menstrual. Que inclusive a suspensão da menstruação através de tratamento com pílula anticoncepcional, ou implante hormonal, é “recurso eficaz para melhorar a enxaqueca”, especialmente a enxaqueca menstrual, aquela que ocorre associada à menstruação.

Será?

Equilíbrio Hormonal

Para compreender o problema, é preciso antes de mais nada entender uma das diferenças mais fundamentais que existem entre o homem e a mulher: o equilíbrio hormonal envolvendo o estrógeno (ou estrogênio) e a progesterona, que ocorre na mulher na idade reprodutiva.

Obs: Caso, antes de seguir adiante, queira assistir um vídeo que resume bastante a explicação abaixo, sinta-se a vontade para assisti-lo e em seguida voltar aqui para ler a importante explicação detalhada.

A partir da puberdade, a mulher possui um equilíbrio dinâmico entre duas forças hormonais:

  • O estrogênio e
  • a progesterona.

O estrogênio é produzido pelos ovários a partir do primeiro dia de cada ciclo menstrual. A propósito: o ciclo menstrual se inicia (1° dia) no dia em que vem a menstruação, que também coincide com o último dia do ciclo menstrual anterior.

Folículo ovariano

Folículo ovariano

Quem produz estrogênio, nos ovários, são os folículos ovarianos. Dentro dos folículos, encontram-se os ovócitos, ou oócitos (quando um oócito/ovócito é fecundado por um espermatozóide, passa a se chamar óvulo). É como se os folículos fossem “casinhas” onde “moram” os ovócitos.

A cada ciclo menstrual, desenvolvem-se, graças a um sinal hormonal vindo do cérebro (na verdade um hormônio produzido na glândula hipófise que recebe o nome propício de hormônio folículo estimulante, abreviado FSH), algumas unidades a algumas centenas de folículos e respectivos ovócitos, em ambos os ovários (veja isso ilustrado na próxima foto, logo abaixo).

Folículos no ovário

Folículos se desenvolvem no ovário, de algumas unidades a algumas centenas, a cada ciclo menstrual.

O hormônio estrogênio, primeiro prato da balança do equilíbrio hormonal referido acima, é produzido justamente por esses folículos ovarianos, mais precisamente numa área desses folículos denominada camada granulosa.

A partir do 1° dia do ciclo menstrual, à medida em que os dias passam, a produção e, portanto, a quantidade de estrogênio vai aumentando.

Ações do estrogênio: O estrogênio promove o crescimento da parte interna do útero (endométrio) que descamou na última menstruação. Promove o crescimento e maturação dos folículos e oócitos mencionados acima. Promove a multiplicação de todas as células que possuam um receptor de estrogênio em qualquer parte do corpo, como por exemplo, as células mamárias e as células gordurosas. Promove retenção de líquido, o que é útil numa situação de equilíbrio, pois essa retenção compensa o líquido perdido com a menstruação. No sistema nervoso central (cérebro), promove um estado de estimulação. Em situação de equilíbrio, isso se traduz por uma fase mais ativa, mental e fisicamente, além de uma maior propensão à atividade sexual.

À medida em que os folículos amadurecem pela ação do estrogênio, eles vão crescendo em tamanho e excercendo pressão para fora na parede dos ovários onde estão contidos. Por volta da metade do ciclo menstrual (cerca de 2 semanas), os maiores desses folículos podem até mesmo ser visíveis a olho nu, ou ao ultrassom, como pequenas protuberâncias ou “bolhas” na parede dos ovários.

Ovulação

Ovulação

A certa altura nesse momento, um desses folículos se rompe e o ovócito, que nele residia, sai em direção à trompa. É a ovulação. Este óvulo vai se encaminhar, via trompa, ao útero. Enquanto isso, o folículo, agora rompido, passa a produzir um outro hormônio – o outro prato da balança do equilíbrio hormonal: a progesterona. Este hormônio, a progesterona, continuará a ser produzido pelo corpo lúteo em quantidades crescentes, e passará a predominar durante a segunda fase do ciclo menstrual (período de cerca de 2 semanas após a ovulação, conhecido entre os estudiosos como fase lútea), atingindo um pico máximo de concentração na metade dessa fase (ou seja, os níveis de progesterona atingem um máximo por volta do 21° dia de um ciclo menstrual de 28 dias.

Ações da Progesterona: A progesterona atua de maneira ao mesmo tempo oposta e complementar ao estrogênio. É como se estrogênio e progesterona estivessem em lados opostos de uma gangorra balançando em equilíbrio, para um lado e para outro, alternadamente. Um equilíbrio dinâmico, em oposição a um equilíbrio estático no qual a gangorra estaria parada, imóvel, no ponto médio.

A progesterona interrompe a proliferação celular ocasionada pelo estrógeno. As células do endométrio param de se multiplicar e dividir, passando a se diferenciar (em outras palavras, amadurecer naquilo que elas nasceram para ser: células endometriais, em sua forma e função) e também se manter onde estão e não descamarem a qualquer momento numa menstruação, tudo isso graças à ação da progesterona de favorecer o aporte de sangue (vascularização) e nutrientes (por exemplo, oxigênio) no local. As células gordurosas e mamárias também recebem o “recado” para se diferenciarem. Ocorre até mesmo uma absorção do tecido gorduroso.

A progesterona promove a perda do líquido eventualmente retido a mais pelo corpo, através de um aumento da diurese. No sistema nervoso central (cérebro), a progesterona atua como um calmante, apaziguando os ânimos, por assim dizer, e dando uma sensação geral de e calma bem-estar. Tanto é que durante a gravidez, quando a progesterona passa a ser produzida em quantidades muito maiores pela placenta, é comum as mulheres se sentirem muito calmas e até sonolentas. Graças a esse efeito “diminuidor dos disparos excessivos dos neurônios”, não é infrequente, durante a gravidez, especialmente após o primeiro trimestre, que as enxaquecas diminuam em intensidade ou desapareçam até depois do parto, quando a placenta vai embora e a progesterona se esgota.

De qualquer modo, num ciclo menstrual normal sem gravidez, a capacidade do corpo lúteo de produzir progesterona se esgota após cerca de 14 dias (término da fase lútea), interrompendo, assim, a produção de progesterona. Sem progesterona, o aporte de nutrientes acaba e o endométrio não se mantém, descamando. É a menstruação. É um ciclo menstrual que termina, dando início ao seguinte.

Desequilíbrio Hormonal

Imagine, agora, uma mulher que, por algum motivo qualquer, não ovula. Com as informações acima sobre equilíbrio hormonal em mente, fica fácil entender que se não há ovulação, não há corpo lúteo e portanto não há progesterona. Na ausência da ovulação, a gangorra  permanece travada no lado do estrogênio somente.

Em consequência, as ações da progesterona, ao mesmo tempo opostas e complementares às do estrogênio, não se fazem sentir. Por exemplo: se a progesterona “acalma” o cérebro (como vimos acima), então a ausência da progesterona vai predispor a um estado de hiperestimulação do cérebro em comparação a uma situação em que a progesterona estaria presente.

Dominância estrogênica

Na ausência de progesterona, os níveis de estrogênio, embora normais, se encontram sem oposição. Essa ausência de oposição faz com que as ações e efeitos do estrogênio, ainda que em níveis normais, se tornem desproporcionais. Alguns pesquisadores dão a esse quadro o nome de dominância estrogênica: sintomas muito incômodos de excesso de estrogênio ocorrendo justamente na época em que a progesterona deveria estar presente: a fase pré-menstrual.

Dores de cabeça e enxaqueca menstrual e/ou pré-menstrual são exemplos desses sintomas. Considerando que o estrogênio possui ação estimulante do cérebro, então em situação de desequilíbrio (ausência da progesterona que possui ação calmante), ocorrerá um efeito hiperestimulante.

Considerando que a enxaqueca, por sua própria natureza neuroquímica, compreende um estado de hiperatividade no cérebro, a presença de hiperestimulação num cérebro já em um estado de hiperatividade tem tudo para facilitar e piorar dores de cabeça e crises de enxaqueca.

O mesmo mecanismo se aplica às alterações de humor, como hipersensibilidade, hiperreatividade, ansiedade, agressividade, flutuações do humor, enfim, os sintomas comuns de  TPM, que podem ocorrer (não necessariamente todos em uma mesma pessoa) em resposta a essa desproporção.

Retenção de líquido, espinhas na pele, cistos de ovário, nódulos mamários, miomas, gordura em excesso, atrasos menstruais, adiantamento da menstruação, sangramentos menstruais excessivos e irregulares, são outros possíveis sintomas explicáveis por essa desproporção.

Cisto de Ovário não é a Causa dos Sintomas

Você leu, mais acima, sobre o ciclo menstrual normal e o desenvolvimento/amadurecimento dos folículos dentro dos ovários. Conforme você já leu, à medida que os folículos crescem, vão fazendo pressão e protuberância para fora na parede dos ovários, formando, perto da ovulação, minúsculas “bolhas”, algumas até visíveis a olho nu. O termo em “mediquês” (jargão médico) para “bolha” é “cisto“. Portanto, a cada ciclo menstrual, no período da ovulação, é normal e esperado que ocorram pequenos cistos (“bolhas”) nos ovários. Isso não é sintoma de doença nenhuma, mas sim, parte do ciclo menstrual normal. Num laudo de ultrassonografia dos ovários, poderá se ler ovários micropolicísticos – em outras palavras, “minúsculas bolhas nos ovários”, o que nessa situação, repito, seria perfeitamente normal e esperado.

Em caso de ausência de ovulação, essas “bolhas” não são reabsrorvidas, como teriam sido num ciclo normal por ação da progesterona. De forma que esses cistos podem continuar crescendo e/ou se acumulando nos ovários. Nesse caso, o laudo da ultrassonografia se referirá a ovários policísticos.

Note, portanto, que esses cistos nos ovários são meras consequências, e jamais causas, dos sintomas de desequilíbrio hormonal referidos anteriormente.

Acontece que alguém, um dia, resolveu dar a todos esses sintomas o nome oficial de síndrome dos ovários policísticos.

Cabe aqui mais uma tradução do “mediquês” para o português coloquial, muito importante que você entenda. Nós médicos entendemos “síndrome” como um “conjunto de sintomas” que se manifestam comumente numa mesma doença. Enxaqueca, por exemplo, é uma síndrome: um conjunto de sintomas como dor de cabeça, enjôo, vômitos, hipersensibilidade à luz e barulho, etc (não necessariamente todos os sintomas numa mesma pessoa). Essa síndrome recebeu o nome oficial de enxaqueca, mas nada impede que tivesse recebido o nome “síndrome da cabeça que dói“. A cabeça que dói, obviamente, não é a causa da doença, mas apenas uma das consequências.

Da mesma forma, síndrome dos ovários policísticos é o nome oficial que se resolveu dar ao conjunto de sintomas que compreendem cistos de ovários, TPM, cólicas, fluxo menstrual desregulado, alterações emocionais, espinhas (acne), etc (não necessariamente todos esses sintomas nessa mesma pessoa). Assim como no exemplo do parágrafo anterior, a causa de todos esses sintomas da “síndrome dos ovários policísticos” não é, obviamente, os cistos dos ovários. Os cistos são, repito, meras consequências do desequilíbrio hormonal descrito neste artigo.

Portanto, tratar os cistos dos ovários como se fossem a causa de todos os sintomas equivale a tratar a dor de cabeça da enxaqueca, na ilusão de estar tratando a causa dessa dor.

Pílula anticoncepcional é anovulatório E tem ação estrogênica

Agora que você entendeu que a ausência de ovulação gera ausência de corpo lúteo, ausência de progesterona e uma série de possíveis sintomas decorrentes desse desequilíbrio hormonal, você já deve ter concluído que não ovular não é, definitivamente, um bom negócio para o equilíbrio hormonal e a saúde como um todo.

Acontece que a pílula anticoncepcional, assim como os implantes hormonais e quaisquer outros métodos contraceptivos com acão estrogênica possuem, por definição e obviamente, ação estrogênica.

Nós falamos até aqui sobre dominância estrogênica provocada simplesmente pela falta de ovulação. Imagine então você causar anovulação (ausência de ovulação) através de uma droga que possui ação estrogênica (ex: pílula anticoncepcional, implante hormonal). Não precisa ser gênio para entender, na hora, que o problema se agrava.

Melhora ilusória dos sintomas

Algumas de vocês podem estar pensando: ” – Mas depois que comecei a pílula [ou o implante, etc] [de uso contínuo ou não], meus sintomas melhoraram. Como isso se explica?”

Os hormônios funcionam à base de feedback (retroalimentação). Ou seja, se há falta, o corpo (melhor dizendo, os receptores desse hormônio que estão, como é o caso do estrogênio, estar espalhados pelo corpo) é notificado e reage no sentido de providenciar, ou tentar providenciar, um aumento na produção. Inversamente, se há excesso, o corpo é notificado e reage no sentido de diminuir a produção. Dependendo, a maneira com que o corpo reage pode englobar sintomas – sensações desagradáveis que nos comunicam que algo está errado.

Note: o que está errado neste caso não são propriamente os sintomas, mas sim o desequilíbrio hormonal que está gerando esses sintomas.

No caso dos sintomas em questão, se você aumentar muito, de forma antinatural, o hormônio estrogênio – através de uma pílula anticoncepcional, implante hormonal etc. – o sistema fica confuso a tal ponto que para de te avisar que algo está errado. O excesso antinatural de hormônios na forma de pílula anticoncepcional pode, em muitas pessoas, suprimir os sintomas.

Isso é uma coisa boa? Não.

Resolve o problema para sempre? Também não.

Apenas suprime os sintomas.

A causa (dominância estrogênica) continua presente e até mais acentuada, porém você deixou de sentir.

Por enquanto.

Desequilíbrio hormonal é multifatorial e envolve hábitos e estilo de vida.

Não há solução fácil na forma de uma pílula, implante ou injeção, para o desequilíbrio hormonal em questão. O que deve existir antes de mais nada é um estilo de vida saudável desde a infância/puberdade, para que problemas e sofrimentos muito maiores possam ser evitados.

Quando presentes, esses sintomas – esse desequilíbrio hormonal – devem ser tratados através de uma ação conjunta englobando intervenções médicas as mais conscienciosas e menos agressivas possíveis, associadas a uma série de mudanças-chave no estilo de vida: sono, alimentação, gestão do movimento e gestão das emoções. Este, na minha opinião, é o melhor caminho, pois somente mudanças no estilo de vida têm chance de influenciar as causas deste desequilíbrio hormonal. As mudanças de hábito e estilo de vida que sugiro estão delineadas no meu livro, cuja leitura sugiro enfaticamente.

Minha dica: Jamais use pílula anticoncepcional. Caso não deseje engravidar, consulte seu médico de confiança a respeito de outros métodos não hormonais de prevenção da gravidez, como o DIU de cobre, camisinha etc.

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Tópico: Com Remédios/ Tratamentos

Sobre o Autor - Dr. Alexandre Feldman

Médico clínico-geral (CRM-SP 59046), autor de vários livros sobre enxaqueca, criador e responsável pelo site Enxaqueca.com.br (onde você se encontra neste momento), palestrante, criador do termo "Medicina do Estilo de Vida", para designar a vertente da medicina que prioriza mudanças de hábito e estilo de vida para a prevenção e recuperação de doenças. Tem consultório em São Paulo, cidade onde mora com sua esposa, a culinarista Pat Feldman e dois filhos.

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